Igreja Presbiteriana de Tingui
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CAB - Curso de Atualização Bíblica- 2013

Período Intertestamentário -No simples ato de virar a página de livro de Malaquias, para om primeiro capítulo de Mateus, há um salto de mais de 400 anos. Os judeus testemunharam grandes mudanças nas culturas vizinhas e também sofreram grandes transformações internas. Este período é chamado de período intertestamentário. São muito escassas as informações da vida na Judéia nos séculos IV e III A.C.. O Evento melhor documentado é o que teve maior impacto sobre os judeus e sobre o mundo conhecido: a conquista do Oriente por Alexandre Magno. Em 333 ele derrotou os persas em Isso e se dirigiu para o sul e conquistou Tiro, passou por Jerusalém onde foi bem recebido pelo Sumo Sacerdote Jádua que o identificou com o bode em Daniel 8.8, mostrando-lhe a passagem do livro. A súbita morte de Alexandre em 323, dividiu o Império para os seus quatro generais dos quais Ptolomeu e Seleuco, herdeiros do Egito e Síria respectivamente, inauguraram as dinastias que disputaram a Palestina. Inicialmente, os Ptolomeus eram possuidores da Palestina. A conquista grega do Oriente teve efeito profundo na cultura. Valores, crenças e práticas gregas foram assimilados no Oriente e a isso damos o nome de Helenismo. O Helenismo introduziu o grego koiné como idioma cultural e comercial do mundo mediterrâneo e o regime da polis nas cidades conquistadas: a democracia regida pelos cidadãos, homens livres e proprietários de terra que elegiam seus representantes, os magistrados que governavam a cidade. A maior polis da época, Alexandria, recebeu muitos judeus, pois o mundo, globalizado pelo Helenismo, não apresentava barreiras. A Fé judaica era tolerada e respeitada. Os judeus podiam, conforme decreto de Alexandre, observar o shabbath, coletar e administrar seus próprios impostos, possuir poder judiciário para julgar os de sua própria raça e estavam isentos de culto aos deuses dos lugares onde estivessem. Ser judeu era obedecer a Lei, reconhecer o Templo como local de adoração, enviar para lá o imposto anual e, se possível, visitá-lo pelo menos uma vez por ano em uma das grandes festas. A distância de onde viviam para a Palestina, e mesmo na Palestina para o Templo, provocou o desenvolvimento da sinagoga, a reunião religiosa para orações, leitura da Palavra e observância dos sábados ao longo dos anos em todas as polis onde haviam judeus.
O Estudo das Escrituras e a Septuaginta-Com o advento da sinagoga, o estudo e a interpretação das Escrituras começou a ganhar importância sobremodo independente, ocupando o centro da vida religiosa judaica. No processo de adaptação da Torah ao uso prático, os eruditos teólogos realizaram façanhas in-terpretativas. Foi nessa época de propagação popular das Escrituras que o Rei Ptolomeu II, Filadelfo
(284-247 A.C.), mandou em 277 A.C. traduzir a Torah para o grego a partir da proposta de Demétrio Fale-rus, Diretor da Biblioteca de Alexandria. A ordem de tradução foi enviada a Eleazar, o Sumo Sacerdote, que respondeu prontamente, escolhendo setenta e dois teólogos exegetas linguistas para esta tarefa. A Septuaginta, como ficou conhecida esta tradução, incluía a Lei, os Profetas, os Escritos Canônicos e, posteriormente, os Escritos Extracanônicos, conhecidos pelos católicos como deuterocanônicos e pelos protestantes como apócrifos.
Na próxima semana estarei tratando dos livros apócrifos e Pseudepígrafos. Porém para uma melhor compreensão do Novo Testamento, especialmente os evangelhos, torna-se importante o conhecimento dos grupos políticos da época.
Grupos religiosos e políticos dos Judeus
Quando, seguindo-se à conquista de Alexandre, o helenismo mudou a mentalidade do Oriente Médio, alguns judeus se apegaram ainda mais tenazmente do que antes à fé de seus pais, ao passo que outros se dispuseram a adaptar seu pensamento às novas ideias que emanavam da Grécia. Por fim, o choque entre o helenismo e o judaísmo deu origem a diversas seitas judaicas.
Os Fariseus- Os fariseus eram os descendentes espirituais dos judeus piedosos que haviam lutado contra os helenistas no tempo dos Macabeus. O nome fariseu, “separatista”, foi provavelmente dado a eles por seus inimigos, para indicar que eram não conformistas. Pode, todavia, ter sido usado com escárnio porque sua severidade os separava de seus compatriotas judeus, tanto quanto de seus vizinhos pagãos. A lealdade à verdade às vezes produz orgulho e até mesmo hipocrisia, e foram essas perversões do antigo ideal farisaico que Jesus denunciou. Paulo se considerava um membro deste grupo ortodoxo do judaísmo de sua época. (Fp 3.5).
Saduceus- O partido dos saduceus, provavelmente denominado assim por causa de Zadoque, o sumo sacerdote escolhido por Salomão (1Rs 2.35), negava autoridade à tradição e olhava com suspeita para qualquer revelação posterior à Lei de Moisés. Eles negavam a doutrina da ressurreição, e não criam na existência de anjos ou espíritos (At 23.3). Eram, em sua maioria, gente de posses e posição, e cooperavam de bom grado com os helenistas da época. Ao tempo do N.T. controlavam o sacerdócio e o ritual do templo. A sinagoga, por outro lado, era a cidadela dos fariseus.
Essênios- O essenismo foi uma reação ascética ao externalismo dos fariseus e ao mundanismo dos saduceus. Os essênios se retiravam da sociedade e viviam em ascetismo e celibato. Davam atenção à leitura e estudo das Escrituras, à oração e às lavagens cerimoniais. Suas posses eram comuns e eram conhecidos por sua laboriosidade e piedade. Tanto a guerra quanto a escravidão era contrárias a seus princípios. O mosteiro em Qumran, próximo às cavernas em que os Manuscritos do Mar Morto foram encontrados, é considerado por muitos estudiosos como um centro essênio de estudo no deserto da Judeia Os rolos indicam que os membros da comunidade haviam abandonado as influências corruptas das cidades judaicas para prepararem, no deserto, “o caminho do Senhor”. Tinham fé no Messias que viria e consideravam-se o verdadeiro Israel para quem Ele viria.
Escribas- Os escribas não eram, estritamente falando, uma seita, mas sim, membros de uma profissão. Eram, em primeiro lugar, copistas da Lei. Vieram a ser considerados autoridades quanto às Escrituras, e por isso exerciam uma função de ensino. Sua linha de pensamento era semelhante à dos fariseus, com os quais aparecem frequentemente associados no N.T.
Samaritanos- Após diversas rebeliões de Israel (como, após a divisão causada pelo filho de Salomão, era chamado o Reino do Norte), o rei da Assíria Salmaneser tomou a capital, Samaria, em 722 aC. e deportou a população para outras regiões do seu império. Ao mesmo tempo trouxe para Israel populações de outras regiões. Todos esses acontecimentos são relatados em II Reis 17. De acordo com o relato, estes povos aprenderam a servir ao Senhor, Deus de Israel, porém continuaram a servir os seus próprios deuses. Os “samaritanos” mencionados no Novo Testamento são a população resultante da miscigenação desta população, e certamente incluía alguns Israelitas que escaparam à deportação. Sua inimizade com os Judeus era decorrente de seu culto e de sua origem mistos, e da oposição que, liderados por um homem chamado Sambalate, fizeram aos judeus durante a reconstrução das muralhas de Jerusalém (Neemias 4.1-3; 6.1-9.
Herodianos- Os herodianos eram mais um partido político que uma seita religiosa, e criam que os melhores interesses do judaísmo estavam na cooperação com os romanos, porém sem se submeterem diretamente a eles. Essa cooperação “indireta” aconteceria através do reinado títere da dinastia herodiana. Seu nome foi tirado de Herodes I, o Grande. A opressão política romana, simbolizada por Herodes, e as reações religiosas expressas nas reações sectárias dentro do judaísmo pré-cristão forneceram o referencial histórico no qual Jesus veio ao mundo. Frustrações e conflitos prepararam Israel para o advento do Messias de Deus, que veio na “plenitude do tempo” (Gálatas 4.4).
Zelotes: Para uma parte dos fariseus, a dimensão política desempenhava uma função decisiva em seu posicionamento vital e estava ligada ao empenho pela independência nacional, pois nenhum poder estranho poderia se impor sobre a soberania do Senhor em seu povo. Estes eram conhecidos pelo nome de zelotes, que possivelmente foi dado por eles próprios, aludindo ao seu zelo por Deus e pelo cumprimento da Lei. Também pensavam que a salvação é concedida por Deus e estavam convencidos de que o Senhor contava com a colaboração humana para obter essa salvação.
Publicanos: Estando direta ou indiretamente submissos ao governo romano, os judeus deviam pagar tributos ao império. Esses tributos eram de duas espécies: os que eram cobrados sobre propriedades (tributum agri) ou sobre pessoas (tributum capitis) e os demais ingressos do estado (vectigalia). Entre os “Vectigalia”, entre outros, destaca-se o “portório”, que era o imposto cobrado pelo trânsito de mercadorias pelo império, e que era o correspondente romano de três impostos modernos: o alfandegário, cobrado pela introdução de mercadorias no território ou pela saída delas, o de consumo, cobrado pelo trânsito de mercadorias dentro do território, e o pedágio, cobrado pelo trânsito de pessoas e mercadorias por determinadas regiões (pontes ou estradas, por exemplo).Em Roma, já em 212 aC existia uma classe de oficiais que se encarregavam de uma série de contratos oficiais – a “ordo publicanorum”. Posteriormente, com o aumento do império, passaram a atuar em diversas províncias onde suas atividades incluíam a cobrança de impostos. Sempre foram considerados como dados a abusos e malversação dos recursos obtidos, e mencionados como “gatunos e aproveitadores”. A “ordo publicanorum” era dirigida por um diretor, o “magister societatis”, o qual em cada província era representado pelo “pro magistro”, um vice-diretor. Este tinha a seu serviço um grande número de empregados, entre os quais um “submagistri” que éramos que coordenavam a cobrança dos tributos. Zaqueu provavelmente era um destes (Lucas 19.1-10). Subordinados a estes estavam os “portitores”, ou cobradores do “portório”, os quais faziam a cobrança diretamente da população. Mateus era, talvez, um “portitor” (Lucas 5.27). Assim, a palavra “publicano” foi erroneamente aplicada não apenas aos membros da “ordo publicanorum”, mas a todos os contratados por esta para trabalharem na cobrança de impostos para o império. O desprezo de que os publicanos eram alvo por parte dos judeus vinha de duas razões principais, sempre aliadas à revolta pelos abusos cometidos: 1. Eles eram considerados “imundos”, por causa do constante contato com os romanos, gentios e pagãos. Os escritos dos rabinos não apenas os declaravam impuros, mas até mesmo transmissores de impureza pela simples presença. 2. Eles eram considerados traidores e agentes da dominação estrangeira.
Bom estudo
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